quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A verdade como dever



                                          Antonio de Pádua Costa, Piauí, aprisionado em 1974
                                   

A verdade como dever



João Carlos


“Por que se chamavam homens/Também se chamavam sonhos/E sonhos não envelhecem/Em meio a tantos gases lacrimogênios/... E basta contar consigo/Que a chama não tem pavio/
De tudo se faz canção/E o coração na curva de um rio... “.
                                                                                                        (Lô Borges, Clube da Esquina nº 2)


Qual a pretensão do governo e do estado com a instituição da Comissão da Verdade, sancionada em 18 de novembro?

Em relação ao Araguaia, o partido* permanece vivo, está no poder e tem obrigação de se manifestar, cobrar o que aconteceu a seus integrantes aprisionados, alguns torturados, e, como muitos destes, também outros assassinados.

Quem foram os carrascos?

Onde foram sepultados os corpos de combatentes e prisioneiros?

As provas em documentos e depoimentos existem e são públicas. O partido nada fez até o presente momento, para cobrar a ação criminosa de quem executou prisioneiros. Não se manifesta, mas açulou a família da Célia (Rosa), a montar uma farsa e a me levar ao tribunal no Rio de Janeiro, no final dos anos setenta.

Fiz parte da Guerrilha do Araguaia. Não dei procuração a ninguém, muito menos ao grupo da Mocréia e seus vampiros, que omitem exumações de restos mortais dos que tombaram.

Inventam, distorcem, deturpam e manipulam a história de outros sobreviventes.

O governo vai continuar submisso a esse grupo de violadores de vidas e restos mortais, e deixar quem participou de fora sem sequer ser ouvido?

Ou esse grupo é sequela da formação dessa partidarização da máquina do estado?

Não queremos nem podemos julgar, porque somos parte, e parte não julga. Mas nós, guerrilheiros, realizamos essa história, temos o direito a falar e razões a revelar. É nosso dever.

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* Partido Comunista do Brasil (PCdoB), formulador das Forças Guerrilheiras do Araguaia (Foguera),1972-1975, e,  atualmente,  co-administrador  do estado em aliança majoritária com o Partido dos Trabalhadores (PT).

Um comentário:

Fatima Marques disse...

Uma comissão como esta, tão tardia, precisava comtemplar a plenitude possivel desta historia até agora, foram tantas...em especial guerrilha do araguaia onde meu irmão morreu...
Plenitude possivel... até hoje, já seria tão rica de depoimentos, informações, milhares delas que ainda estão ao vento.
Poderia ser um trabalho já muito bem enbasado e, talvez para muito mais dos 2 anos previstos, porém com a consistencia necessaria para quê, possamos de uma vez por todas, retirarmos nossos mortos da clandestinidade eterna!...e concordo com veemencia quando vc diz sobre a modesta (para não dizer ausente)atuação do Partido no resgate da memoria e ação de seus soldados(porque assim foram). Eu como familiar, anseio justiça...será que é errado? Trago comigo guardado tantos recortes de depoimentos, inclusive do major curió...tanto tratado já produzido sobre o assunto, tantas investigações, ossadas. Parece dificil sensibiliza-los sobre o fim digno que esperamos para o nosso familiar, porque assim ele era (digno, parece pouco) quando nos deixou em tão pouca idade. O respeito, seriedade no encaminhamento, investigações, cuidado legal com o cidadão que foram, acessar o familiar para novas informações daquele seu ente querido...são alguns detalhes minimos que se espera do Estado e do Partido ao qual pertenceram e que por eles deram o seu sangue!...porque deram!..quem pode negar isso!...Militares ou comunistas ou qualquer cidadão brasileiro...e aos que sobreviveram,que foram mais fortes ou tiveram mais sorte e que carregam as marcas, usem do direito a "falar e razões a revelar..." isto é um dever sim, não uma ordem...é claro.