quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Esquerda - Vaidade - Colonialismo cultural

Fundo da antiga casa da Faveira, litigio, em 2004, de um capitão do Exército.
Não há nenhum ponto em todo o sudeste do Pará tombado como registro histórico da guerrilha, nas áreas das Forças Guerrilheiras do Araguaia (Foguera) ou das Forças Legais

              Esquerda - Vaidade - Colonialismo cultural
João Carlos

                                                                                                                                              
     Entendo Esquerda como a força política que defende benefício social, cultural e econômico para todos. Tradição que sobrevive à mãe de todas as revoluções, a Francesa, na qual os grupos ficaram conhecidos pela posição que ocupavam nas assembleias. As forças mais progressistas, à época, posicionavam-se à esquerda.


    Integrantes, militantes de agremiações partidárias, sindicatos e de boa parte do movimento social tomam emprestada a designação. Utilizam-na e a envergonham nos dias de hoje, corrompendo, com ambições pecuniárias, até mesmo as legendas que se intitulam herdeiras daqueles ideais.


    Ainda existe uma esquerda democrática, querendo um sistema de governo no qual o povo exerça sua soberania, tomando decisões importantes a respeito das políticas públicas. Não de forma ocasional ou circunstancial, sempre segundo os princípios permanentes da legalidade.


     Uma esquerda comprometida com a justiça social, que acate, quando governo, a vontade da maioria, respeitando os direitos e a livre expressão das minorias, em que as equações se resolvam com o diálogo entre a democracia direta e a democracia representativa.


    No momento, está no poder uma esquerda stalinista e populista criando novos currais eleitorais, por meio da distribuição de bolsas e salários sem alterar substancialmente a forma do desenvolvimento econômico e a realidade social.


   Todos nós somos herdeiros de uma nação iniciada por uma “elite” europeia, a colônia Brasil, com o objetivo do lucro rápido, que originou a designação povo brasileiro, copiada dos trabalhadores que manuseavam o pau-brasil, tal como carpinteiro, costureiro - uma profissão, não uma nacionalidade.


   Apesar da desfiguração de nossa nacionalidade, teimamos em continuar lutando por condições dignas para todos.


    Na história da qual participei, havia integrantes de várias origens da esquerda, incluindo uma viúva jamais casada, até hoje encastelada num grupo que tudo faz, até mesmo ocultar restos mortais em armário de ministros, entre outras maquinações, como criar e espalhar boatos de desconfiança sobre outros sobreviventes, para que os fatos ocorridos no sul do Pará não sejam devidamente relatados.


    O que mais a esquerda stalinista quer apagar da memória do povo brasileiro?

    Lembremos epopeias tupiniquins, como a Coluna Prestes, com suas vitórias, tanto a militar, cuja marcha de 25 mil km é estudada nas academias militares mais importantes do mundo -, como a diplomática, ocorrida em sua rendição, na Bolívia, ao pactuar com os oficiais daquele país, a posse de uma arma longa para cada grupo de dez homens e que cada integrante ficasse com sua arma curta. Lições ignoradas em troca de uma cartilha externa, maoísta.


  Também ideias educativas para solucionar o marasmo educacional e cultural, com orientações e métodos praticados mundialmente, conhecidos pelo nome de seu criador, Paulo Freire, não são aqui colocados amplamente em prática, como foi no Vietnã.
   


                                                                                                           “Que lembrança darei ao país que me deu
Tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?”
(Carlos Drummond de Andrade, 1951)


Sônia

 Fragmentos 

João Carlos

      Amiga, camarada, companheira, coração do mundo em todos os momentos.     
     Proletária mesmo, de infância difícil, eu a conheci magra, de mãos longas e finas, de pianista.
     Devemos nos ter esbarrado nos “Concertos para a Juventude”, organizada, executada e palestrada pelo maestro Eliezer de Carvalho, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no início dos anos 60, quando jovens ansiávamos e respirávamos liberdade, cultura e política, como os jovens também estão começando a fazer hoje.
     Quando abri o partido, seu programa e política para ela, apenas fez uma pergunta:    
      - E o ser humano?
      - É por ele que vamos lutar.
     Significativos segundo depois, a resposta.


     Ao reencontrar Sonia, com seu sorriso amplo, aberto e feliz, na Beira, no Araguaia, abraçamo-nos, e a saudade derretia. O cenário era grandioso como nosso projeto de liberdade. Seu corpo estava rijo, com curvas generosas.
     Em certa noite, durante o período de treinamento intensivo do destacamento, Sonia, ainda com o sorriso luminoso, Zebão, João Araguaia, Zé Carlos, Cristina, Duda e eu trocamos impressões de como andava a preparação, a estratégia e etc.
     Sobre meus questionamentos a respeito de melhor preparação militar (fustigamentos, preparar locais previsíveis de entrada da reação para emboscadas e armadilhas), João Araguaia ponderou com a sobriedade que lhe era peculiar. Dizia que todos os aspectos eram novos, inclusive para o nosso comando.
     Todos os olhos se voltaram para o comandante, Zé Carlos, que declarou solenemente: - Se a Comissão Militar disser - batendo com os nós dos dedos na madeira - que isso é pedra, eu acredito.
     Pela primeira vez, vi Sonia com o rosto baço, como estavam os dos demais, que se mostravam confusos.
     Quem lhe teria apagado o sentido crítico, sempre espontâneo e afiado?
     Senti, naquele momento, solidão e vazio.


     No fim do treinamento, discursos, despedidas e um comunicado.
     - Reunião à noite, no Peazão.
     O que seria?
     Era além da surpresa!
     Era além de qualquer bom senso!
     JULGAMENTO DA SÔNIA.
     Acusação: - Excesso de cuidados. A palavra usada foi paternalismo - dela com o Mário (Maurício Grabois), que sofria de hipertensão, entre outras enfermidades.
     O ciúme, a inveja, o medo de perder qualquer poder motivaram a pantomima açulada pela Mocréia, sentada ao lado do Gil**, representante da Comissão Militar, que, sem cerimônia, fez a acusação com a maior cara limpa.
     Falei a favor de Sônia, o que não era uma defesa, por que não havia o que defender.
     Ficou no ar um mal estar, ninguém falou mais nada, os olhares se desviavam. Cheirava mal.

*Respectivamente, os guerrilheiros Sônia (Lucia Maria de Souza) ,  Zebão (João Gualberto Calatroni), João Araguaia (Demerval da Silva Pereira), Zé Carlos (André Grabóis), Duda (Luiz René Silveira e Silva), todos, incluindo  Paulo (João Carlos Campos Wisnesky), componentes do Dst A, comandado, nesse período, por Zé Carlos.
**Integrante da Comissão Militar, Gilberto, Pedro Gil (Gilberto Olímpio Maria).
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"Segredos" 

Myrian Luiz Alves


          Placa exibida na entrada do Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), 
no Km 8 da Transamazônica







Militares em cerimônia do Dia do Exército, 19 de abril, no 52º BIS, 2011. Criado para o combate à guerrilha, em junho de 1973, o BIS foi instalado na entrada da área do Destacamento A





Pelo menos um corpo de guerrilheiro foi levado do BIS, sob cuidados do então delegado de Marabá, para ser sepultado no novo cemitério da cidade, conforme apurou o Grupo de Trabalho Tocantins, com o apoio logístico da 23ª Brigada de Infantaria de Selva,  atualmente, a maior da América Latina. Em 1981, o reforço ao termo "terrorista", linguajar pouco utilizado nos relatórios militares e ausente do relatório parcial da Marajoara, de março de 1974. 

O relatório, divulgado pela jornalista e escritora Taís Moraes, em 2005, narra as perdas infringidas à "FOGUERA" ,  a partir outubro de 1973, entre elas o "Comandante Geral - MAURÍCIO GRABOIS, um elemento da Comissão Militar, o Armeiro, 2 (dois) Comandantes de Destacamento, 5 (cinco) Comandantes de Grupo e uma Enfermeira* (respeitando a grafia do original).

Relata o efetivo guerrilheiro inicial, em abril de 1972 e, em quadros, faz o reajustamento, em janeiro de 1973 e em 12 de janeiro de 1974, quando ainda havia, segundo o texto, 33 guerrilheiros na área, sendo dois elementos locais e quatro membros da Comissão Militar. Do Dst A, eram 11, do B, dez, e do C, oito.


Entre as vulnerabilidades do inimigo, afirma o Relatório do Exército (Gabinete do Ministro), CIE, n 1/74, distribuído em 21 cópias para departamentos das três forças  - "De acordo com o Art 44 do Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (Decreto n 60.417, de 11 Mar 67), ficam os destinatários deste Relatório autorizados a difundir às Agências que lhes forem subordinadas, os itens que julgarem convenientes."


À página 83, afirma, ainda, "a perda de contato com o exterior (Partido), motivada pelo cerco estratégico que lhe foi previamente realizado, com prisão em massa dos Elementos do PCdoB, nas principais cidades do BRASIL, inclusive dos principais dirigentes LINCOLN CORDEIRO OESTE e CARLOS NICOLAU DANIELLI."** 


Documentos oficiais e testemunhais da história
Lucia Maria de Souza, Sônia, nasceu a 22 de junho de 1944 em São Gonçalo (RJ) e tombou no segundo confronto da Operação Marajoara, em São João do Araguaia (PA), no dia 24 de outubro de 1973. Deixou o terceiro ano da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro em 1971, quando deslocou-se para a região. Na área do Destacamento A, entre Marabá e arredores de São Geraldo, tornou-se a mais popular, devido sua atuação como a principal "Bula" (assistente médica) e a de melhor alvo do Destacamento A.



Cercada nas proximidades de um pequeno igarapé, sob ordens de prisão, não se rendeu. Atirou em dois oficiais, Sebastião Curió Rodrigues de Moura e Licio Ribeiro Maciel. Em Curió, o tiro pegou de raspão, e, em Lício, então doutor Asdrubal, o major-chefe da equipe, no rosto.


Desde os anos 70, Curió conta o episódio, ressaltando a valentia da guerrilheira e afirmando que ela atirara também em outro oficial, de quem não revelava o nome.


Em 2004, o tenente-coronel Lício Maciel, identificou-se como o ex-major, do confronto com Sônia, e responsável pelo encontro, em 13 de outubro de 1973, que resultou na morte do comandante do Dst A, Zé Carlos, Zebão e Alfredo ( Antonio Alfredo Campos), lavrador que aderira à guerrilha. João Araguaia conseguira escapar e narrou o fato, registrado em relatórios guerrilheiros. Nunes (Divino Ferreira de Souza) é aprisionado ferido. Levado para a Casa Azul, em Marabá, sede dos oficiais na última campanha, morre em 14 de dezembro de 1973, de acordo com o relatório da Marinha, de 1993.


Registra-se que o polêmico coronel esteve na Câmara dos Deputados e no Senado, soltando informações e impropérios, como faz em seu blogue. Revelou fatos relevantes, base do livro O coronel rompe o silêncio, do jornalista e escritor Luiz Maklou Carvalho, e depôs em oitiva da Justiça Federal, em 2010. Maklouf, nunca chamado pela área dos direitos humanos, acompanhou a primeira caravana dos familiares ao Araguaia, em 1981.


O coronel já contou, embora sua oitiva na Justiça Federal não tenha procurado saber a respeito, que formou o grupo de agentes que atacou o sul do Maranhão em 1971, na Operação Mesopotâmia, em busca de militantes da Var-Palmares, Ação Libertadora Nacional (ALN), MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes) e Ação Popular (AP). A ação na região também procurava, entre outros,  por José Porfírio, líder de Trombas e Formoso (GO). Depois de  dois anos de prisão, na qual teve como companheiro de cela um dos guerrilheiros do Araguaia, Glênio Sá, Porfírio "desapareceu", após ser deixado por sua advogada na rodoviária de Brasília.


Entre 1971 e 1972, o coronel também esteve no embate no qual morreu Jeová de Assis Gomes, do Movimento de Libertação Popular (Molipo), em Guaraí (então estado de Goiás), com a presença do "desaparecido" Boanerges de Souza Massa, segundo o próprio coronel. Jeová foi enterrado no cemitério local, e ninguém perguntou ao coronel o que teria ocorrido com Boanerges.
**Este blogue ainda fará outro comentários a respeito do relatório da Operação Marajoara, entre outros.
 Apoio logístico do Exército ao Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), 2010
O velho método e os fins
Em 2009, o jornalista Evandro Éboli, de O Globo, localizou o ex-guerrilheiro mirim José Wilson de Brito, recrutado pelo Dst A, aos 12 anos,  presente no enfrentamento de Sônia, a quem alertara, poucos segundos antes do cerco, que não acreditava terem sido os “meninos” a passar por ali, como ela lhe dissera, ao perceber que as botas que deixara para banhar-se na grota que hoje leva seu nome tinham sumido. 


Já nos primeiro tiros, "Wilsinho" jogou-se ao chão, arrastando-se rapidamente. Após alguns dias passou a amargar a prisão que perduraria três anos. Os direitos humanos nunca chegaram a Wilson, que retornou em 2009 a São Domingos do Araguaia (PA) para colaborar com os trabalhos do GTT. Esses direitos também não chegaram a Lauro Rodrigues, da Faveira, que perdeu um irmão e metade de um braço na explosão de uma granada encontrada no chão. Pouco antes, Lauro, então com 16 anos, ficara responsável pelo comércio da Faveira, sob supervisão mensal do Beto (Lúcio Petit da Silva), como outros, ex-morador da casa à beira do Araguaia, no histórico município de São João.


Em 2011, a logística, apoio fundamental - e simbolicamente rico - da Brigada de Infantaria de Selva, de Marabá, exercido desde 2009 ao GTT, composto por legistas e antropólogos forenses, do Instituto de Criminalística do Distrito Federal e da Polícia Federal, geólogos (de várias universidades do país), arqueóloga, pesquisadores, familiares, moradores, ex-guerrilheiros, entre outros, e coordenado pelo Ministério da Defesa do Brasil, sofrerá condições.


Sob a coordenação de três ministérios - Defesa, Justiça e Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) -, o Grupo de Trabalho Araguaia submete-se hoje aos pedidos  feitos por "representantes" de direitos humanos, casualmente, também partes da petição junto à Corte Internacional de Direitos Humanos, de retirada da farda militar e de não realização de reuniões para feitura de relatórios nas dependências da Brigada, em Marabá.


Destaca-se que a sentença da Justiça Federal tem como ré a União, não as instituições nacionais.

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