segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Hipocrisia





    
Liberdade, no Araguaia, por Tereza Sobreira, 2009


Hipocrisia


João Carlos


“A morte nos espreita, e não sabemos quando chegará; aguardemo-la em todo lugar. Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade. Quem aprendeu a morrer, aprendeu a não ser mais escravo. Nada atingirá a quem sabe compreender que morrer não é um mal. Saber morrer liberta-nos de toda sujeição e constrangimento.”
(Montaigne, 1533-1592)



O pequeno grupo, cada vez mais reduzido, que difundiu um abaixo-assinado nesta semana, contra comitês e a Comissão da Verdade, que, como sempre, não lhes satisfazem a vontade, se apresenta como porta voz de quem?

Qual chantagem faz ao PCdoB, ao PT ou ao governo a única pessoa que participou dos eventos da Guerrilha do Araguaia, integrante há anos de tais grupos, hoje transformados em ONG's?

Algum guerrilheiro sobrevivente deu procuração a ela ou a outras dessas pessoas para nos representar de forma teatral como coitadas viúvas? Repudiávamos e repudiamos esse tipo de exibição, nunca fomos ou nos vimos assim.

Esclarecemos, no campo da luta, a nossa opção clara e consciente, de participar de ações, como a Guerrilha do Araguaia, contra a ditadura daquele momento.

Nós, sobreviventes, não somos chamados oficialmente a falar sobre nossa participação. Ao contrário, somos bombardeados de longa data por uma campanha difamatória.

Estive lá por amor à liberdade e, ali, como guerrilheiros, éramos mais do que camaradas. 

Não segui para o campo por religiosidade, amor ou fidelidade ao partido. Alguns camaradas podiam até estar ali por Stalin e sua doutrina, no entanto, cada um, com seus sonhos e razões, lutou sem esperar piedade.

Escolho sempre a loucura libertária, jamais atitudes cafajestes e o comportamento sem ética dos que representam nossa República, historicamente encorajadora, por um certo tempo, de oportunistas e canalhas.

Entendo como tremenda cara de pau daquela e de outras poucas figuras que rondam sempre as investigações da história, a confecção de mais um entre diversos abaixo-assinados escritos pelo mesmo agrupamento, ao longo das últimas décadas.

Boa parte dos três poderes, em nome da tal “governabilidade”, está envolvida diretamente nos escândalos diários e abrem as porteiras para as ratazanas do porão.

Como se sustentam esse e outros grupos oportunistas? Da forma como está estabelecida a relação entre a democracia representativa e a direta. 


Para a representativa elegemos representantes aos postos executivos e legislativos, que, ao exercer o poder, transformam-se em déspotas, alheios à vontade pública, praticando desmandos a torto e a direito.


Para se afirmar no poder, necessitam desses grupos intermediários, que se auto-intitulam representativos, mas na verdade movem-se apenas por interesses escusos.


Felizmente, vemos também muitos gestores municipais serem cassados, ultimamente, por atos de corrupção. No início da década de 90, caras-pintadas foram às ruas exigir a saída do primeiro presidente eleito por voto direito, após o regime militar.

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