quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os primeiros combates, em São Geraldo, segundo o sargento Califa, da Força Aérea Brasileira


Os primeiros combates, em São Geraldo, segundo o sargento Califa, da Força Aérea Brasileira



Avião do empresário José Noleto, apreendido na base de Xambioá, em 1972. Noleto e seu piloto, Pedro Careca, ficaram presos na base


Além de testemunhar a chegada do corpo de Bergson Gurjão Farias, Jorge, chefe do Grupo Esperancinha, do Dest C, primeiro dos guerrilheiros a tombar, no início de junho de 1972, o ex-sargento Califa, da FAB, viu chegar também o corpo de Idalísio Soares Aranha, Aparício, do Dest B, em julho de 1972, morto na região de Perdidos.

Viu prisioneiras Luzia Reis e Regilena Carvalho, do Dest C, entre outros, como o piloto Pedro Careca, funcionário do empresário de aviação Pedro Noleto.

Os autores do blogue preservam a identidade do militar, mantendo o codinome por ele utilizado em 1972.



                      “Detalhes registrados na agenda do sargento Califa, da FAB:

     A chegada do primeiro corpo de um guerrilheiro (Jorge)



Final da manhã do dia 2 de junho de 1972. O helicóptero sapão 02 sobrevoa baixo, lentamente o rio Araguaia. Junto ao esqui direito, há uma pequena lona cinza, envolta em um corpo atado por cordas e seguro pelos tripulantes e paraquedistas que acompanham o transbordo da vítima do confronto havido, próximo a Pau Preto.

Um dos paraquedistas da equipe diz que não tiveram tempo para acondicionar melhor o corpo na lona, pois receberam ordens para trazer de imediato para a base, e, assim, o corpo veio meio dobrado enrolado pelas cordas. 

A cerca de dois metros do chão, o mecânico de voo do ‘paquera’, Osmário, e um cabo do BIS ajudam a descida do corpo do guerrilheiro que pende de lado, e tomba de uma altura de 3 metros sobre um estrado. A cena é tocante pelo estado de ruína em que se encontrava o guerrilheiro.

O sargento Califa se aproxima do rebelde curvado e inerte, puxa o braço esquerdo para ajeitar o corpo, para que ‘Jorge’ - apesar da condição em que se encontrava - ficasse em posição frontal, deitado, e levemente curvado para cima. Quando caiu, o tronco ficou separado apenas seguro pela camisa.

Os olhos semiabertos, o bigode estilo mexicano, com os pelos retorcidos em torno do extenso ferimento, denotava o impacto proveniente de cano raiado. 

Os cabelos fartos em desalinho, para os lados. Um tiro de isolado de fuzil atingira-lhe o lado esquerdo do rosto junto ao nariz, aparentemente vindo da direita do guerrilheiro. Dois impactos que aparentavam ter vindo de duas direções abertas a 90º, fazendo crer que foram dados em tempos distintos. 

Uma rajada de fuzil automático, de frente, e na horizontal, quase fez dobrar o corpo na altura do umbigo.

O ‘doc’ se aproxima com o cabo enfermeiro de Belém e preparam a maca, para levarem o corpo do rebelde para a barraca da ‘emergência’.
 - “O terrorista abriu a guarda enquanto cuspia fogo na patrulha, que ficou na área buscando os outros!” - retruca um militar que descera do sapão, retornando da área do confronto.

Quem estava junto à pista, por instantes, contemplava o ‘engenheiro Jorge, de Fortaleza’ - como assim se referiu, de início, o agente Jota Cristo, do CIEx.

O fotógrafo de Brasília fotografou o corpo, que foi preparado e levado para dentro do campo santo de Xambioá, distante cerca de 1 km do acampamento.”                           


Apontamento no cemitério de Xambioá, em 1981, à Caravana de Familiares. Os dois X, em vermelho, estão como no original. Significam as sepulturas de Maria e Jorge, assim afirmados aos integrantes da caravana. Maria Lucia Petit e Bergson Gurjão Farias. Ainda contaremos mais a respeito da demora das duas identificações, após suas exumações, respectivamente, em 1991 e 1996.

                         
                 Restos mortais, intitulados X-2, retirados em 1996, identificado

                      somente em 2009 como Bergson Gurjão Farias (Jorge)




  Texto do sargento da FAB, presente na base de Xambioá,
        sobre Idalisio Soares Aranha

“Ao chegar a Xambioá, em julho de 1972, o corpo do guerrilheiro foi trazido em uma lona com muito cuidado, uma vez que vertia muito sangue e aparentemente seu rosto vinha em pior estado do que chegara um mês antes o guerrilheiro Jorge. Pela manhã, um soldado atingido na perna, que chegara de helicóptero, foi rápido carregado para a barraca do Doc.

"O sapão trouxe o corpo e retornou rápido para a região dos Perdidos, pois os confrontos continuavam na região do destacamento C.

"Frases soltas ouvidas de um sargento da inteligência, no desembarque do corpo, dizia que houvera uma emboscada e o guerrilheiro fazia a linha de frente do grupo que escapara da visão do helicóptero e dos soldados de infantaria e equipe de operações espalhados junto à trilha.

"Outra frase dizia que o jovem fora vítima da disparidade de armamento quando foram atacados por uma saraivada de tiros de fuzil enquanto respondiam com espingardas 20 e 44, além de revólveres 38.



Memorial católico de Walkíria Afonso Costa e Isalisio Soares Aranha Filho. Companheiros, Walk compunha e tocava acordeon, que chegou às suas mãos no Araguaia. Idalísio tocava violão. O ex-sargento conta ter visto Walkíria, a quem reconhece por fotografia, dias antes do início do conflito em Xambioá, acompanhada de uma amiga


"O grupo vinha sendo monitorado pelo avião observador paquera enquanto contornavam pelo norte da Grota Vermelha, um desvio de uma trilha a sudoeste de São Geraldo. Chamou atenção de um piloto do sapão o fato de correrem para se esconder no mato.

"Ante a aproximação de uma patrulha levada pelo helicóptero, iniciou-se um tiroteio, em que dois deles foram atingidos, segundo o artilheiro do sapão. Um deles ficou na linha de visada do helicóptero e da patrulha, respondendo o fogo, atravessou bravamente uma área circundante de clareira em combate desigual. Não se entregou.   

"O sargento Califa da FAB reparou que apenas a lateral do rosto ficara de fora da lona, completamente ensopada de sangue. E foi fotografado e, na volta do sapão, levado para os fundos da área improvisada do cemitério. Da pista se observava o helicóptero em voo pairado, rente ao capim, enquanto desciam o corpo envolvido e amarrado com cordas.

"Houve um rebuliço na coordenação do acampamento, pois se aventava que o guerrilheiro poderia ser o doutor Juca. Um capitão do CIEx conseguiu identificar por escritos em papéis apreendidos o nome Idalício Aranha. Assim se comentava naquele dia na base.”  

Um comentário:

João Carlos Campos Wisnesky e Myrian Luiz Alves disse...

Observações, após publicação do texto, feitas pelo ex-sargento Califa, por meio eletrônico.

Talvez haja oportunidade de inverter as alturas. A cerca de três metros do chão... e

"tomba de uma altura de 2 metros....", embora o helicóptero estivesse no pairado, subindo e descendo, a altura da queda foi logicamente aproximada, que me lembro de memória. O Genoíno estava a cerca de 50 metros e viu a mesma cena de dentro do acampamento."


"A cerca de dois metros do chão, o mecânico de voo do ‘paquera’, Osmário, e um cabo do BIS ajudam a descida do corpo do guerrilheiro que pende de lado, e tomba de uma altura de 3 metros sobre um estrado. A cena é tocante pelo estado de ruína em que se encontrava o guerrilheiro."
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"Noleto era fazendeiro e sublocava o avião com Pedro Careca, e quem fez a frase equivocada sobre o 'engenheiro' Jorge, me vem a figura do agente Gago da FAB."