quarta-feira, 14 de março de 2012

MP vai abrir processo contra Curió. E então...

Myrian Luiz Alves e João Carlos


 Xambioá (TO)
Direito do país em saber sua história, já contada parcialmente
 em matérias do currículo escolar da região

O noticiário de ontem, 13, informou que o Ministério Público Federal vai abrir processo contra um dos militares que atuaram como agente do Centro de Inteligência do Exército (CIEx) na Guerrilha do Araguaia: o ex-coronel Sebastião Rodrigues de Moura Curió. A acusação é de sequestro de cinco guerrilheiros.

Curió e garimpeiros de Serra Pelada (PA), década de 1980

Este blogue já colocou os nomes de outros três militares que atuaram na linha de frente, um deles, em 1993, Thaumaturgo Vaz, já chamava os integrantes do grupo de informações de "vagabundos", em entrevista à Fundação Getúlio Vargas. Em 2001, o MPF andou pela região, entrevistou moradores e ex-guias. Um dos procuradores, Guilherme Schelb, disse que Curió possuía um bunker em Curionópolis (PA). O MP não manifestou ter procurado o ex-coronel, embora ele fosse um dos militares mais citados por moradores, principalmente por ter permanecido na região e favorecer-se do poder adquirido principalmente no período pós-guerrilha.


Citado neste blogue, Curió, durante anos, incluindo seu período como deputado federal, nunca negou sua participação na contra-guerrilha. Dela, tirou bom proveito - interventor de Serra Pelada no início dos anos 80, deputado federal e prefeito, cassado posteriormente por desvio de dinheiro público.


Em entrevistas, costuma evocar o nome de José Genoíno como defesa de seu comportamento, "nunca torturei ninguém". Em 2005, contou ao jornalista Leonencio Nossa a data de morte da guerrilheira Dina, 24 de julho de 1974. Não houve qualquer reação à informação, da mesma forma como em 2008, quando o mesmo jornalista, repórter de O Estado de S.Paulo, revelou documentos do ex-militar. No ano passado, também a imprensa informou que o ex-coronel passara algumas horas na prisão, por porte ilegal de arma.

Nos relatórios ao Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), do Ministério da Defesa, um morador diz: "Curió só combatia prisioneiros". O ex-agente também prestou depoimento, em 2009, à Justiça Federal. Chegou a confirmar a existência de "filhos" do guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, um deles, Giovani, supostamente sequestrado por militares. Além de não ter sido dada sequência a outras perguntas naquele momento, nenhum grupo de direitos humanos se manifesta a respeito.

O blogue louva a atitude dos procuradores e espera que a procuradoria militar siga o mesmo caminho. No entanto, como sabemos que, desde os anos 80, Curió sempre foi o principal foco, ou o que mais pôs a cara a tapa, que se vangloria, como disse certa vez ao New York Times, de ser chamado o Kurtz da Amazônia, em alusão ao livro Coração nas Trevas, de Joseph Conrad, base do filme Apocalipse Now, fica a sensação de que não há nada de novo no ar.

De nossa parte, continuaremos por ora a acreditar que existe algo muito estranho na demora do cumprimento da sentença da juíza Solange Salgado - que tem o poder de convocação de qualquer cidadão - e no vaivém das notícias sobre os conflitos ocorridos nos anos 60-70. Assim como a "estranheza" na demora de procedimentos de identificação de restos mortais já recolhidos como na exigência de folhas de alteração. Nelas, constam os plantões militares que podem ser confrontadas com as datas de morte (incluindo de prisioneiros) apresentadas pela Marinha em 1993, por exemplo. Com exceção de um ou outro equívoco, elas batem com as informações até aqui apresentadas.

Em tempo: vale a pena ler a reportagem "Do caos à lama". O sonho do ouro volta a assolar Serra Pelada, publicada hoje, 14, na Revista Trip.

Um comentário:

Anônimo disse...

Duas jovens e três rapazes aprisionados, enfraquecidos, e fuzilados. Crime de lesa-humanidade!
C.A.Malta