quinta-feira, 28 de junho de 2012

Coluna Bastidores


Bastidores

Por Myrian Alves e João Carlos


Como mostra a legenda da foto, o capitão comandou o 52º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), implantado no Km 8 da Transamazônica em junho de 1973 para combater a guerrilha. Do BIS foram retirados corpos, segundo testemunhos ao Grupo de Trabalho Tocantins, em 2010. Já faz parte da narrativa da história. 

O período da chefia do capitão coincide com o da eliminação de prisioneiros. Ele poderia contar o que ocorreu, pelo menos entre Brejo Grande e Marabá (PA). Fotos dos sucessores integram também a homenagem  aos comandantes do BIS da 23ª Brigada, a maior da América Latina. (Relatório e foto de Myrian Luiz Alves, GTT, abril/2011)


Comissão da Verdade prioriza documentos 
antes de novos depoimentos

A informação saiu anteontem (26) no Correio Braziliense. A notícia é boa. Um bom cruzamento de informações pode impedir a repetição da divulgação de assuntos velhos como fossem novos. Foi o caso da entrevista do legista Harry Shibatta, um dos campeões de laudos de mortos políticos durante o regime militar.

Profissão "terrorista"

Durante os anos de chumbo, o IML paulista inscrevia a profissão "terrorista" nas fichas dos que morriam em conflito armado, nas ruas ou nas torturas dos porões. Quando não retirados por parentes ou outros, pelos mais variados motivos, o serviço funerário municipal de São Paulo encaminhava os corpos para cemitérios municipais, com seus nomes verdadeiros ou falsos. A partir de março de 1971, o Cemitério dom Bosco, no bairro de Perus, passa a receber a quase totalidade dos que tombavam nessas condições.

Tudo isso foi apurado há 20 anos pela Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Desaparecidos Políticos (CPI de Perus), da Câmara paulistana. Shibatta e vários de seus colegas, como Isaac Abramovitz, depuseram em audiências públicas, como fizeram também ex-governadores, ex-delegados e militares como o falecido coronel Eramos Dias.

Quebra-cabeça 

A documentação do IML foi pesquisada durante a CPI graças a trabalho  anterior do repórter Caco Barcelos, ao levantar informações para seu livro Rota 66. Ou seja, os documentos, em desordem, foram arrumados pela equipe do jornalista. Representantes de direitos humanos e assessores da CPI também cruzaram essas informações, disponíveis nas 19 pastas da comissão no acervo da Câmara paulistana. Casos de outros estados também foram tratados na CPI, entre eles o Araguaia.

Por que é considerado "desaparecido" um corpo que dá entrada num instituto de segurança pública, é fichado e encaminhado para cemitério municipal? Ou, ainda, visto pela maioria da população de uma cidade do interior, que vivia e sabia tratar-se de uma guerra.

Vez ou outra volta à pauta a destruição de documentos. Até mesmo o visado IML de São Paulo mantinha, em 1989, 90 e 91 todos os seus registros e disponibilizava suas desorganizadas pastas a um repórter da TV Globo, devidamente autorizado pelo governo do estado.
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A casa de Petrópolis

Os representantes de direitos humanos do Rio precisam se entender sobre a questão dos mortos da casa de Petrópolis. Os militantes foram desaparecidos, como diz o ex-delegado Claudio Guerra, ou foram enterrados no cemitério da cidade, como já noticiou tantas vezes a imprensa. 
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Maluf e Perus 


A  fotografia do ex-presidente Lula com Fernando Haddad e Paulo Maluf, que correu as redes nos últimos dias, serve pelo menos para lembrar que o ex-prefeito pode ser útil à Comissão da Verdade.

Quem sabe, agora, o "comunista" Maluf resolva ampliar as informações dadas à CPI de Perus, em 1991. Na época, o vereadores queriam apenas saber a razão do campo santo ter sido construído às carreiras, sem serviços adequados até de terraplenagem.

A partir de março de 1971, o Cemitério Dom Bosco receberia a maioria dos mortos políticos de São Paulo.


Maluf prestou um grande serviço ao regime, ao comprar, por exemplo, às custas do erário, todas as homenagens - coroas de flores, placa de bronze, divulgação em jornais - à jovem agente Stela Borges Morato, assassinada (como mostrou a CPI) em "fogo amigo" no cerco ao líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, em 4 de novembro de 1969. 

A morte de Stela também deve ser esclarecida para a história do país. 

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Grupo de Trabalho Araguaia, junho/2012



Ficou bonita a inserção do Brasão da República nos impressos do GTA, incluindo os utilizados nos veículos que percorrem a região para o cumprimento da sentença federal.

Em 2001, recortei os símbolos republicanos de várias pastas da Câmara para colá-los nas laterais das caixas de restos mortais que seguiram de Marabá para Brasília, após a primeira fase da Expedição Antígona, da Comissão de Direitos Humanos.

Naquele momento, também os três poderes atuavam na apuração dos acontecimentos da guerrilha no Araguaia. A Comissão da Verdade pode nos fazer entender as razões da condenação do Brasil na Corte Internacional. (Myrian Alves)